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12-10-2020
"A igualdade de género é um princípio fundamental da União Europeia, mas não é ainda uma realidade. Nas empresas, na política e na sociedade em geral, só poderemos concretizar plenamente o nosso potencial se utilizarmos todos os nossos talentos e diversidade. Utilizar apenas metade da população, metade das ideias ou metade da energia não é suficiente.”
Não deixar ninguém para trás. Inclusão digital só existe se houver inclusão de todas e de todos.
As últimas décadas têm assistido a um desenvolvimento das competências educacionais que traçam um retrato otimista da educação em Portugal. Em 1970, 25,7% dos indivíduos era analfabeto, tendo estes valores caído para cerca de 2% em 2018. Neste ano de 2020/2021 Portugal conheceu um número record de estudantes a chegar ao ensino superior, foram mais de 51.000 alunos. E embora mais de 54% dos estudantes do ensino superior sejam mulheres, nas áreas de ciências, matemática e engenharias (STEM) este número cai para 43,1% e nas engenharias, para 28,4%, sendo que nas engenharias tecnológicas é de 12,4%. Números que integram a quase totalidade dos futuros profissionais das profissões tecnológicas.
De acordo com o DESI (Digital Economy and Society Index) que constitui um índice composto da Economia e Sociedade Digital, com dados publicados em março de 2020, existem cerca de 9,1 milhões de pessoas que trabalham nas áreas de ICT – Tecnologias de Informação e Comunicação em toda a União Europeia. Deste número, 83,5% dos trabalhadores são homens.
Sendo a área das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), uma das que garante empregabilidade, melhores salários, bom ambiente de trabalho e horários de trabalho flexível e onde atualmente mais de oito em dez trabalhos de TIC são ocupados por homens, o Instituto Europeu para a Igualdade de Género chamou a atenção em Março de 2019 para o facto de se assistir a uma segregação das ocupações profissionais em razão do sexo, nomeadamente nas TIC, a qual é fortemente marcada por estereótipos de género, sendo que os papéis atribuídos a homens e mulheres influenciam fortemente essas escolhas.
A primeira pessoa que se destacou na área da programação foi uma mulher. Em pleno século XIX, a britânica Ada Lovelace foi pioneira na escrita de linhas de código, tendo sido responsável pela escrita do primeiro algoritmo criado na história, muito antes da existência de máquinas que pudessem processá-lo. Aquele algoritmo, entretanto, foi provado como correto anos depois de seu falecimento, quando finalmente foi possível ter os equipamentos necessários para essa verificação. E se Tim Berners-Lee é o pai da internet, Radia Perlman pode ser considerada como a mãe. Designer de software e engenheira de redes, ela foi responsável pela criação do protocolo STP (Spanning Tree Protocol), que melhorou a performance de sistemas conectados ao evitar a realização de loops de dados, garantindo que as informações circulem mesmo em caso de problemas, sem ficarem perdidas tentando firmar uma conexão inexistente.
Em Portugal, Madalena Quirino, licenciada em matemática em 1957, foi durante os anos 1960 investigadora no Laboratório Nacional de Engenharia Civil onde esteve associada à criação do Centro de Cálculo e à aquisição do seu primeiro computador em 1958. Em 1975 desempenhou um papel chave no desenvolvimento inicial da Licenciatura em Engenharia Informática da Universidade NOVA de Lisboa, pioneira em Portugal, tendo sido a primeira Presidente da área de Informática na mesma Universidade.
Estes são apenas exemplos que provam por um lado a existência de importantes desenvolvimentos tecnológicos no feminino, e por outro lado a importância de dar visibilidade ao papel das mulheres na tecnologia. Projetos como "Engenheiras por um dia”, que resulta de uma parceria com a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), o Instituto Superior Técnico (IST), agrupamentos escolares ou escolas secundárias, e a Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres (APEM), pretendem dar visibilidade pelo exemplo de mulheres que optaram pelo trabalho tecnológico. A liderança feminina nestas áreas também deve ser disseminada de forma exemplar. Estas são formas positivas de desmontar mitos e preconceitos de género.
Também nesta matéria o .PT, liderado no feminino, tem vindo a apoiar várias iniciativas para promover a participação das mulheres no digital dentro e fora de portas. É exemplo disso o prémio anual Jovem Aluna .PT no âmbito do Concurso Apps for Good.
Closing the Gender Gap on Digital Technologies é um dos desígnios da União Europeia, também de Portugal: É a medida 19 do Pilar I do Plano Nacional para a Transição Digital.
Precisamos de mais profissionais na área tecnológica, mulheres e homens.
"A igualdade de género é um princípio fundamental da União Europeia, mas não é ainda uma realidade. Nas empresas, na política e na sociedade em geral, só poderemos concretizar plenamente o nosso potencial se utilizarmos todos os nossos talentos e diversidade. Utilizar apenas metade da população, metade das ideias ou metade da energia não é suficiente.”
Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia a 8 de março 2020
Nota: os artigos deste blog não vinculam a opinião do .PT, mas sim do seu autor.
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